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VISITA TÉCNICA
Monumento e Mausoléu ao soldado constitucionalista de 32
Data: 03/05/2018
O Grupo Museu/Patrimônio realizou visita técnica ao Monumento e Mausoléu ao soldado constitucionalista de 32 (1937-70), situado no Parque Ibirapuera, agendada por Anna Maria Rahme, participante do mesmo grupo de pesquisa. A data coincidiu com a realização do seminário sobre o Brasil Caipira, sétimo capítulo do vídeo O povo brasileiro (2000), sobre a obra de Darcy Ribeiro (1995). A seleção do local pretendeu evidenciar ao grupo as questões da mitificação da figura do bandeirante, ao lado de outros inúmeros símbolos representativos de uma dada paulistanidade buscada pelos realizadores da homenagem aos “heróis da revolução de 32”. Símbolos estes, intensamente, aprofundados em tese de doutorado da autora, pela FAUUSP (2005): Inovar e conservar: a ambiguidade no Monumento Constitucionalista.
O memorial, desde sua implantação e edificação, até os mosaicos, escultura e ossários revelam a inegável intenção de criar um reduto sagrado e, portanto, intocável, propósito aceito pelo autor Galileo Emendabili, vencedor do concurso público de 1937. Iniciando por relacionar a edificação obedecer à numerologia maçônica, especificamente, ao número nove, em clara alusão à data da eclosão do Movimento, o 9 de Julho – altura do obelisco, degraus da entrada, número de arcos e área interna de cada ambiente entre outros – mas, também, pelo uso das formas consagradas na Antiguidade Oriental e Ocidental.
A sagração do lugar é materializada pelo obelisco, que a população escolheu para nomear o monumento Obelisco do Ibirapuera, esta lâmina da “espada que mãe terra quando ao seu seio desembainha”, cantada em verso de Guilherme de Almeida e completada pelas alças - as duas entradas laterais -, em cuja base, na parte interna do mausoléu, acolhe o Herói Jacente – homenageando explicitamente os cinco “jovens mártires da Revolução”: Martins, Miragaia, Drausio, Camargo – MMDC – e Paulo Virgínio. Acima da escultura, nas paredes da parte oca ogival (não por acaso) do obelisco, situam-se dois portais com relevos em bronze: a Porta da Vida e a Porta da Glória, encimadas por um anel de mosaicos que celebra os desbravadores do “solo bandeirante” e o trabalhador paulista, erigindo o “altar da pátria” com o painel Classes Trabalhadoras de São Paulo.
Além desses altares laicos, os espaços circundantes são coroados por três altares a celebrarem a mistificação do Estado, posicionando-o ao lado das três passagens mais importantes da vida de Cristo. São mosaicos venezianos em minúsculas peças vitrificadas, de 1950, cuja intencionalidade está presente já nas denominações dadas por Emendabili: Natividade e Fundação da Cidade de São Paulo; Crucificação e Revolução Constitucionalista de 32; Ressurreição de Cristo e Promulgação da Constituição de 1934. O maior monumento em homenagem à luta constitucionalista, elevado numa das áreas de maior visibilidade – na confluência virtual entre as avenidas 23 de Maio e Pedro Álvares Cabral, no bairro do Ibirapuera – da maior cidade brasileira, capital do Estado de São Paulo, cumpre, portanto, a sagração do movimento, bem como sua eternização na memória paulista.
Os bandeirantes, identificados como Paulistas, em toda a América do Sul, surgem aqui como heróis ao lado dos soldados e intelectuais, tanto nos murais, quanto na estela em mármore à entrada do Mausoléu, na qual está gravada a Ode ao Bandeirismo, de Guilherme de Almeida, ao lado da Oração ante a última trincheira, do mesmo autor. No Monumento e Mausoléu, somam-se a sacrifício e conquistas em enaltecimento simbólico, anunciando a continuidade da luta pelo território e pela perenidade dos ideais da Paulistânia, apontada por Darcy Ribeiro como cultura surgida à época colonial, do movimento separatista Pátria Paulista, de 1887, e coroada pelos esforços da Sociedade Veteranos de 32 – MMDC, no século XX.