Síntese Mestrado
Adrienne de Oliveira Firmo
Na dissertação de mestrado foram investigados os desafios apresentados pela arte da performance e obras semelhantes à formação de acervos em museus, com o objetivo de compreender o paradoxo imposto à relação entre as concepções de preservação, performance e museus, proporcionado pela presença no museu desta produção artística que rejeita a perenidade da lógica museal, dedicada à perpetuação no espaço e no tempo. A pesquisa partiu das observações teóricas dos conceitos de tempo, época e memória a fim de estabelecer vínculos entre estes, o universo museal e a arte da performance.
Nela são apresentados assuntos concernentes ao papel dos museus e os desafios quanto à formação de seus acervos postos pelo ingresso de performances em suas coleções, a partir da análise da aquisição de performances pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo/MAM-SP e pelo Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi/Marp, bem como da atuação do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo/MAC-USP como promotor desta modalidade artística. Assim, a dissertação edifica-se sobre o entrelaçamento entre o estudo teórico e de casos, a fim de levantar, mais que respostas, questões relevantes a acervos de arte contemporânea.
Ao se observar as discussões sobre aquisições de obras mais heterogêneas por museus de arte, verificou-se que não estavam nelas explicitas as obras de efemeridade mais radical, a saber, performances. Assim, o mestrado colaborou com o incremento das discussões sobre aquisições de obras efêmeras por museus de arte, além de explicitar questões relativas à arte da performance, mais especificamente, e arte contemporânea, mais amplamente.
Optou-se por um cercamento delimitado do tema ao se estabelecerem diálogos e convergências entre autores com os quais a pesquisadora pudesse traçar pensamentos paralelos e encontrar afinidades, não adentrando, dessa forma, por discursos divergentes ou mais contrastantes. Assim, foram eleitos autores de extração filosófica, como Hans Belting e Gianni Vattimo, cujas análises da contemporaneidade serviram às observações sobre arte contemporânea e suas características mais próximas da arte da performance, a partir de conceitos desenvolvidos pelo segundo, como os de niilismo e hermenêutica, subjacentes à um mundo no qual o discurso sobre verdades e absolutos não encontra guarida. Estabeleceu correspondências com os pensamentos de Douglas Crimp e Maria Cristina Machado Freire, quanto aos percursos de obras no interior dos museus, sem esquecer, aqui, os diferentes contextos em que os estudos e conclusões em que cada um está inserido, o que não pareceu prejudicar a união de ambos nas análises formuladas na dissertação, uma vez que enfrentou as problematizações apresentadas por estes autores ao introduzir as especificidades apresentadas pela arte da performance e seu ingresso nos acervos de museus, procurando estabelecer um lugar para o estudo desta no âmbito das análises acerca de aquisições em museus, demonstrando sua relevância ao dar prosseguimento às pesquisas por eles realizadas. Analisou, ainda, o papel do museu quanto à preservação da memória do grupo a que pertence e da sociedade em que está inserido, bem como suas responsabilidades enquanto agente promotor de cultura, no caso dos museus de arte, de cultura artística, a partir dos conceitos de memória de Maurice Halbwachs.
Quanto aos estudos sobre performance, demonstrou suas relações com as chamadas artes do tempo, a saber, dança e teatro, e seu lugar na arte contemporânea, e quais os aspectos desta que explicita, a partir da observação da arte como produto de determinada época e sociedade e da articulação entre análises da contemporaneidade e aspectos da arte atual. A pesquisa foi concluída com a constatação da complexidade que os estudos sobre as artes performáticas e suas relações museais de preservação e memória implicam, sublinhando, que tantos outros podem ser realizados, sem, contudo, se chegar ao esgotamento das discussões constantemente renováveis dados seus objetos, ou seja, as relações entre os museus e as obras mais radicais que ingressam em seus acervos.