“Os Filhos do Barro: do romantismo à vanguarda”
PAZ, Octavio. Os Filhos do Barro: do romantismo à vanguarda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984
19 de outubro 2015
Amanda Ruggiero e Anna Maria Rahme
Cap. I: A tradição da ruptura
Evidenciando as contradições entre transmissão ou continuidade do passado e ruptura ou destruição do vínculo que nos une ao mesmo passado, Octavio Paz analisa o paradoxismo do tema Tradição Moderna.
Afirma a possibilidade da crítica, exaltando a transformação pela pluralidade do Moderno.
- 18: “O Moderno não é caracterizado unicamente por sua novidade, mas por sua heterogeneidade”.
Mudança do tempo linear e irreversível – herança judaico-cristã – para um tempo dialético e célere.
- 20: “O novo nos seduz, não pela novidade, mas sim por ser diferente, e o diferente é a negação, a faca que divide o tempo em dois: antes e agora”.
- 23: “Aceleração é fusão: todos os tempos e todos os espaços confluem em um aqui e agora”.
O Passado como arquétipo se faz presente pelos ritos e festas. O rito suprime as diferenças entre passado e presente: triunfo da regularidade e da identidade.
Cap. II: A revolta do futuro
O autor fala da dicotomia entre desenvolvimento e subdesenvolvimento (termo apenas burocrático) e seu pretexto para a segregação das culturas.
Tempo:
- 42: “… como um contínuo transcorrer, um perpétuo andar para o futuro; se o futuro se fecha, o tempo se detém”.
A perpétua possibilidade de ser Moderno se inaugura quando o homem “abre as portas do futuro” fazendo reinar o presente.
Enquanto o Oriente decreta a morte da Filosofia, o Ocidente decreta a morte de Deus e afirma a alteridade do ser. A Verdade não como um fim, mas como o processo fundamentado pela Razão Crítica.
Modernidade como cisão: separação da tradição cristã e afirmação do processo crítico. Portanto, é Revolução: termo que indica a evolução natural ligada ao tempo cíclico, pelas interferências críticas.
Cap. III: Os filhos do barro
Poesia moderna – intersecção entre poder divino e liberdade humana; nos preserva do caos primordial; exalta a mulher como sujeito erótico e não como objeto.
Mito da orfandade universal: Deus é o Pai (criador) que dá a alma a Adão (criatura), mas não está no altar de Cristo (vítima).
- 74: “…o mito está vazio, é um jogo de reflexos na consciência solitária do poeta; não há ninguém no altar, sequer essa vítima que é Cristo. Angústia e ironia: diante do tempo futuro da razão crítica e da revolução, a poesia afirma o tempo sem datas da sensibilidade e da imaginação, o tempo original; diante da eternidade cristã, afirma a morte de Deus, a queda na contingência e a pluralidade de deuses e mitos”.
- 76: Kant: “a imaginação é o poder fundamental da alma humana e o que serve a priori de princípio a todo conhecimento. Através desse poder, ligamos, por uma parte, a diversidade da intuição e, por outra a condição necessária da intuição pura”. Coleridge: “imaginação …faculdade que transforma as ideias em símbolos e os símbolos em presenças”.
- 77: William Blake: “O mundo de imaginação é o mundo da eternidade, enquanto o mundo da geração é finito e temporal”. Segundo Paz, Blake “engendra as contradições da primeira geração romântica”
- 79: Analogia: Verdadeira religião na poesia moderna, do romantismo ao surrealismo. Crença na “correspondência entre os seres e os mundos é anterior ao cristianismo, atravessa a Idade Média e, através dos neoplatônicos, dos iluministas e dos ocultistas, chega até o século XIX”.
Poesia: é construída de ritmos e é palavra sem datas.
Cap. IV: Analogia e ironia
Analogia entre magia e poesia – séculos XIX e XX – estética ativa que nasce com o romantismo alemão.
A Arte deixa de ser somente representação e contemplação.
- 84: “A preeminência do romantismo alemão e inglês provém …sobretudo de sua penetração crítica, de sua grande originalidade poética”.
- 89: Alemães e ingleses ressuscitam a visão analógica do mundo do homem ao desenterrar ritmos poéticos – por uma ruptura da estética greco-romana e por sua dependência espiritual do protestantismo.
Baudelaire: universo como linguagem em contínuo movimento.
O mundo como um texto em movimento.
- 98: Mundo como conjunto de “signos: o que denominamos coisas são palavras”. {…} “O mundo é a metáfora de uma metáfora”.
- 99: “…analogia é a operação, por intermédio da qual, graças ao jogo das semelhanças, aceitamos as diferenças”.
Crítica está na origem da poética da analogia.
Morte: conceito de finitude do homem, aparece na estética romântica e simbolista. Embora pertença ao tempo linear, é uma “exceção que absorve todas as outras e anula as regras e as leis”. Recurso: o duplo ironia – analogia.
- 100: Ironia: estética do grotesco, o bizarro, o único e Analogia: a estética da correspondência. São, portanto, conceitos “irreconciliáveis”.
Ironia – “filha do tempo linear, sucessivo e irrepetível”
Analogia – “manifestação do tempo cíclico: o futuro está no passado e ambos estão no presente”.
Cap. V: Tradução e metáfora
- 115: Paz aponta para uma “utilidade prática: cura psicológica, como a psicanálise é uma ação política”, da crítica filosófica na América Espanhola, como “crítica das mitologias históricas e políticas”.
Modernismo: para o movimento poético hispano-americano. Estado de espírito, resposta da imaginação e da sensibilidade ao positivismo.
Modernism: para o movimento poético anglo-americano do séc. XX
p.119: Rubén Dario: “Graças à modernidade, a beleza não é una, mas plural”.
Ritmo poético: fusão entre o sensível e o compreensível.
Vanguarda: o que vem depois do Modernismo.
p.130: “…o universo fala melhor do que o homem”.
Analogia e Ironia. Amor e Morte. Razão e Sensibilidade
Cap. VI: O ocaso da Vanguarda
- Revolução, Eros e Metaironia
Tradição romântica > tradição da ruptura.
Romantismo e Vanguarda: ambos os movimentos são “rebeliões contra a razão, suas construções e seus valores”. Ambos unem vida e arte, tentativa de destruir a realidade visível para achar ou inventar outra.
p.134: “A Vanguarda é uma ruptura e com ela se encerra a tradição da ruptura”.
Revolução e poesia na Rússia
Revolução e religião
p.140: Poetas séc. XX e o tempo: “Como seus predecessores românticos e simbolistas, …opuseram ao tempo linear do progresso e da história o tempo instantâneo do erotismo, o tempo cíclico da analogia ou o tempo oco da consciência”.
- 142: Marcel Duchamp: O grande vidro
Metaironia: mais além da afirmação e da negação. “…liberação moral e estética, que põe em comunicação os opostos”.
Poema: Ato e não-ato / Lugar e não-lugar / momento é tempo único (este)
- O outro lado do desenho
Vanguarda: p.145: “A violência das atitudes e dos programas, o radicalismo das obras”
p.146: “Intensificação da estética de mudança inaugurada pelo romantismo”
– Aceleração e multiplicação (mudanças de um mesmo artista e não por época). Sucessão de rupturas e manifestações.
– Cosmopolitas e poliglotas
– Caráter transnacional
Tempo: p.154: “Pela porta da sensação entrou o tempo; mas foi um tempo de dispersão e sucessivo: o instante”.
Estética futurista / Congelamento do tempo / Petrificação (abolição do movimento)
- O ponto de convergência
Modernidade: Tempo de crítica > Mudanças > Progresso
p.189: “Diante da história e suas mudanças, postulou o tempo sem tempo da origem, o instante ou o ciclo; diante de sua própria tradição”.
p.190: As negações da Arte Moderna “são repetições rituais: a rebeldia convertida em procedimento, a crítica em retórica, a transgressão em cerimônia”.
- 192: Marxismo: discurso racional – “foi provavelmente a expressão mais coerente e ousada da concepção da história como um processo linear progressivo”.
– História como texto produtor de textos
– História plural: a pluralidade de passados torna plausível a pluralidade de futuros.
– Ciência e técnica (x indústria): na produção de conhecimentos produtivos (e não objetos de consumo)
p.194: “…o capitalismo tratou os homens como máquinas; a sociedade pós-industrial os trata como signos”.
Marxismo: universalização dos homens pela dissolução das classes
Distinção entre: Revolução / Revolta / Rebelião
Rebelião como ruptura do tempo linear: “…o agora como centro de convergência dos tempos.
Passado e futuro são presente
p.198: “O agora reconcilia-nos com nossa realidade: somos mortais”.
p.199: “…no formigueiro anulam-se as diferenças”.
Dada: nem seleção, nem eleição do objeto, mas a dissolução do reconhecimento do objeto industrial numa crítica da arte como objeto.
p.200: “A obra de arte não é um fim em si nem tem existência própria: a obra é uma ponta, uma mediação”
– Artista (o que escreve) e fruidor (o que lê)
– Recepção: Nenhuma leitura é definitiva
– Obra única: cada obra é uma só
p.202: “Não há poema em si, mas em mim, ou em ti”